Resenha "Garota Exemplar" de Gillian Flyn
É extremamente possível que você já tenha ouvido falar de Garota Exemplar, de Gillian Flynn, assim como é quase impossível que você não o tenha lido, mas de qualquer forma, se achegue mais. ☕
Sobre esse livro, 80% dos comentários que li eram eufóricos, e apesar de querer saber se era mesmo tudo isso nunca tive vontade de ler, até a Karoline do @/ me dizer que o eBook estava em promoção — daquelas que a gente gosta — e ai vimos a oportunidade de iniciarmos uma leitura conjunta. E eu não sei se eu estava esperando muito mais, ou se apenas terminei com nojo do Nick Dunne e querendo um final mais digno para a figura da Emy, mas... enfim, segue a resenha:
r e s e n h a
Garota Exemplar é narrado na primeira pessoa com alguns capítulos sequenciais entre o Nick Dunne (um jornalista falido, que está de volta a sua cidade natal no interior juntamente com a esposa, onde também dirige um bar com sua irmã gêmea) e Amy Elliot Dunne, a esposa, e (aparentemente) mundialmente conhecida por carregar o nome de Amy, personagem de uma série BestSeller escrita pelos seus próprios pais.
Rola um certo incomodo ai na Amy porque estão sempre perguntando se é ela a inspiração das estórias, ou mesmo se o que seus pais estão sempre narrando com a "Amy deles" é na verdade o que eles gostariam que a verdadeira Amy, filha deles,fizesse. Já a respeito do Nick sabemos muita pouca coisa.
"Amy sempre retomava imediatamente a ligação. Já haviam se passado três horas, eu deixara cinco recados, e Amy não retornara."
Os recortes que são mostrados ao leitor dá para formar uma personalidade, mas não temos o suficiente para dar o contexto e realmente conhecer as personalidades dos personagens além daquele momento que está sendo contado. Mas ainda é o suficiente para o leitor se envolver e sentir raiva, nojo e talvez até uma leve torcida por ele/ela as vezes.
Essa dinâmica na narrativa serve também para a autora, além de desenvolver o mistério, trabalhar na criação do suspeito N° 01 e nos manter a par dos momentos presentes — o que constantemente nos fica jogando de um lado para o outro da torcida e das duvidas — quando narrado pelo Nick. À medida que chegamos ao meio do livro, durante a narrativa da Amy, vamos conhecer mais de sua personalidade e como as coisas andavam nos meses mais recentes entre eles, por exemplo, Amy segue contando como eles se conheceram, os motivos que levaram o marido a ficar praticamente falido, a relação dela com os próprios pais e o casamente perfeito que todos enxergam e que ela faz questão de manter.
"Eu já sabia que Amy não iria ligar de volta. Eu queria que a parte seguinte começasse."
O foco, no entanto, é o presente, que começa após Nick retornar do bar, depois de uma ligação do seu vizinho que viu a porta de sua casa aberta, e constatar que a esposa não se encontra mais em casa (aposto que aqui você já tem três suspeitos, certo?). Dai em diante a história toda é sobre isso, as buscas e as investigações da policia local e como os pais da Amy tem lidado com tudo, e principalmente o marido, Nick. O caso acaba chegando até a mídia e logo a população se pega sensibilizada com 'O Caso Amy', assim vai surgindo as especulações e tudo o que ocorre quando crimes brutais/sequestro com um grande alcance midiatico acontecem. Ao tempo em que as investigações se aprofundam, o leitor também vai comhecendo um pouco mais sobre Nick, a infância dele, o relacionamento com o pai internado em uma clínica, a irmã e todo o resto do passado, como um corte "do momento".
O que não gostei na narrativa do mistério é que, ao mesmo tempo que é incrível o leque que a autora cria de suspeitos que podem ter sequestrado ou mesmo matado a Amy, é uma suspeita induzida. Mas é tudo sobre uma questão de ponto de vista. Gosto quando a atmosfera é criada e o autor (a) nos apresenta tudo o que tiver de ser apresentado, e ai nós mesmos nos encontramos em dúvida mesmo diante de muita informação. É uma suspeita natural.
No suspense a respeito de um culpado, em Garota Exemplar a autora simplesmente te induz a suspeitar de um único personagem escondendo informações e preferindo mostrar uma coisa cá e outra ali. Mas depois de algumas refletidas a respeito da leitura é visível que foi algo proposital. Isso se o desejo dela era (1) criar alguma crítica em cima de quem sempre é o suspeito quando uma mulher desaparece, (2) o que uma pessoa pode ser capaz de fazer por vingança e principalmente, como a opinião publica ou mesmo a justiça pode ser maleável e manipulável.
"ao longo dos seis meses, ele se perguntara como ela estaria, aquela loura gentil com o rosto assustado"
E sim. Eu passei raiva com alguns personagens, muito mais por uma questão moral do que má construção. Muito pelo contrário. Apesar do mistério ser mais um "manipulação" traquina de escritor, Garota Exemplar é muito original e bem trabalhado. Eu fiquei feito uma Sherlock (junto com a Kah) gravando atitudes e revendo datas durante a nossa busca pelo culpado, mas no final.... Como eu disse, muita coisa é distorção, e talvez seja isso que faz as pessoas ficarem "caracas!" Acho que eu acabei com mais raiva e senso de justiça ao descobrir tudo, do que 'surpresa' em si. Por fim, cheguei ao meio do livro — onde 50% das coisas se resolvem — muito mais por curiosidade, enquanto os outros 50% terminei por puro desejo de justiça.
Se você não leu o livro, fica por aqui mesmo, tá? Porque mais abaixo você irá contrair spoiler. :D Desde já agradeço a sua visita, e tenha uma boa leitura. 💫☁️
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