Resenha | Inventei você? um Sick-lit escrito pela Francesca Zappia
A maior guerra da Alex não é com os outros adolescentes. Não é com as espinhas ou coisas tão banais que a gente mata e morre. A maior batalha da Alex todos os dias é dela contra ela mesma. As vezes a mente dela ganha e as vezes a mente dela ganha, e essas duas coisas por mais que soem iguais, geram consequências diferentes.
Alex está no último ano do ensino médio e trava uma batalha diária para diferenciar realidade de ilusão. Armada com uma atitude implacável, sua máquina fotográfica, uma Bola 8 Mágica e sua única aliada — a irmã mais nova —, ela declara guerra contra sua esquizofrenia, determinada a permanecer sã o suficiente para entrar na faculdade.
E Alex está bem otimista com suas chances, até se deparar com Miles. Será mesmo aquele garoto de olhos azuis com quem ela compartilhou um momento marcante no passado? Mas ele não tinha sido produto da sua imaginação?
Antes que possa perceber, Alex está fazendo amigos, indo a festas, se apaixonando e experimentando todos os ritos de passagem tipicamente adolescentes. O problema é que ela não está preparada para ser normal.
Engraçado, provocativo e emocionante, com sua protagonista nada confiável, Inventei você? vai fazer os leitores virarem as páginas alucinadamente, tentando decifrar o que é real e o que é invenção de Alex. || Nota:|| Título Original: Made You Up? || Autora: Francesca Zappia || Páginas: 346 || Gênero: Sick-Lit, Romance || Editora: Verus || Lançamento: 2017 || Skoob // Amazon
Olá você, tudo beleza?
Vamos com mais uma resenha hoje, dessa vez, Inventei Você? um Sick-Lit de Francesca Zappia.
Visitar o supermercado com a mãe era algo costumeiro, mas quando tinha sete anos de idade Alex cometeu um ato que ela nomeou de A Libertação das Lagostas, estas que tinham o mesmo tom do seu cabelo segundo seu pai, ou vermelho-comunista, como dizia sua mãe. Nenhum dos dois lhe agradavam. No entanto esse não era o fato tão importante que aconteceu anos atrás, mas sim Olhos Azuis, um rapazinho da sua idade que participara da remoção ilegal das lagostas dentro de um aquário de supermercado, o qual nunca mais foi visto por ela depois de ter sido arrastada por sua mãe do local. Está quando perguntada sobre o garoto, entrava em pânico só de relembrar o ocorrido e isso fez com que Alex acreditasse que o seu primeiro amigo fosse apenas mais uma fantasia da sua cabeça.
Um capítulo é dedicado ao ocorrido acima e então a história passa a ser contada no presente, com Alex aos dezessete anos já diagnostica há algum tempo com esquizofrenia, e por favor, peço que não tenha preconceito. Não feche está aba ou remova o livro da sua lista de leitura. Eu poderia ocultar esse fato, mas prefiro dizer que sim, tive receio, ou pior... preconceito (mesmo que indiretamente) de ler "Inventei você?" Eu não sei exatamente o que eu achei, mas pensei que existem tantos livros e romances românticos por ai, então por que ler logo um onde a personagem tenha algo tão complicado? Falando agora soa até grosseiro, mas no momento foi um pensamento sutil (que eu o repreendo agora). Acontece que ao começar a ler eu tive curiosidade sobre a doença em si, quando vi eu já estava rindo das piadas que a própria Alex fazia dela e das situações, até que lá estava eu: grudada na história e emocionada. É um livro lindo, mas também perturbador.
Inventei você? é o tipo de livro que você olha na estante sempre que passa por ela. Você vê o título, pega uns reflexos da capa, chega a três centímetros dele e escolhe o livro ao lado para ler. É aquela obra que vai sendo deixada de lado, pensando em ler ainda esse ano. E então chega o dia de arrumar a estante. Se imagine sentado (a) no chão, os títulos esperando para serem limpados a sua volta, pano em uma das mãos, você abre o livro para folhear, lê a primeira página. a quinta página. Já era. É uma história emocionante, com diálogos provocativos e uma narradora engraçada. A história da Alex fez comigo o que poucas obras literárias conseguem fazer: ficar na minha mente enquanto eu saio para algum momento de diversão ou compromisso, me fazer querer retornar para casa e ler mais um pouco ou no minimo descobrir se minhas teorias estavam certas.
A narrativa é em primeira pessoa, contada pela própria Alex, e isso já foi uma surpresa. Tenho que admitir que sou totalmente leiga no que se diz respeito a doenças mentais, principalmente um personagem esquizofrênico, porque eu estava tipo: como o autor vai narrar essa história pelo olhar do personagem? O que só prova o quanto eu era ignorante, mas também foi esse motivo o que causou a minha maior surpresa: o choque de realidade. Com exceção do diagnostico, Alex é uma adolescente completamente normal. Ela vai a escola, inclusive faz aulas avançadas, consegue se relacionar com as pessoas, se comunicar dentro de casa com os seus familiares, faz planos, entre tantas outras coisas.
Eu não posso dizer que a história é sobre um romance romântico porque não é. Também não é apenas sobre a doença. É sobre um determinado ponto de virada de uma garota na fase da adolescência, que tem um passado repleto de acontecimentos e descobertas, onde a medida que iam acontecendo a Alex foi elaborando o seu próprio jeito de se manter sã dentro daquela bolha. Alex é uma garota que se relaciona com as pessoas (dentro do seu circulo de confiança) e tem dias que acorda querendo ser como qualquer outro jovem da sua idade, mas não é por falta de popularidade ou algum outro padrão, mas por causa de suas limitações, isso já é um bom motivo para refletir.
Nós, considerados como uma 'mente sã', não somos tão diferentes, sabe? Claro que não quero diminuir o tamanho do sofrimento que a esquizofrenia causa em seus portadores (inclusive pude ler e teme-la junto com a Alex). O que quero dizer é que acabei fazendo essa comparação da nossa realidade e da ausência da mesma para a Alex: o tempo todo a gente se paga transitando entre a imaginação e as paranoias da nossa cabeça. Mas não irei me aprofundar nisso (a mentalidade do ser humano), porque é tipo de observação e pensamento que o leitor vai entender quando lê
s o b r e a h i s t ó r i a
Após ter sido expulsa da escola anterior depois de cometer um ato (que o leitor só descobrir páginas depois), Alex entra no meio do semestre na Escola de Ensino Médio East Shoal, tendo como obrigação frequentar o Clube de Apoio aos Esportes Recreativos da East Shoal como serviço comunitário. Não sei afirmar se é a angustia que surge em todas as pessoas, mas em mim o que me deixou no inicio da leitura com mais receio era de que a Alex passasse pelo processo de humilhação e rejeição que os personagens costumam passar, mas não.
A garota é inteligente, tem desenvoltura e sabe rebater a altura (e muitas vezes até maior) as brincadeiras que Miles, um rapaz de olhos azuis (suspeito, nao?) e cabelos cor de terra costuma fazer para irritá-la na escola, não sendo nada muito preocupante. Na verdade os dois até se divertem. A obra é algo tão leve, apesar do seu tema pesado e isso foi o que eu mais amei na escrita da Francesca Zappia. Não espere enrolação a respeito do que aconteceu no passado ou cenas de humilhação externa. Na verdade Alex consegue se sair muito bem com o mundo exterior (até certo ponto claro) e fazer amizades saudáveis com os demais membros do Clube: a Theo integrante dos trigêmeos junto com o Evan e o Ian; a francesa Jetta Lorena; e o parceiro de crimes não tão graves do Miles, o Art Babrow.
Miles é o supervisor-chefe do serviço comunitário, o que é irônico, pois ele é o personagem misterioso e que faz as pessoas a sua volta o temerem. O lado bacana é que dessa vez o mocinho (ou não) não é aquele completo badboy. Ele foge dos padrões por ser o garoto nerd, primeiro da turma (o que causa espanto já que todo mundo acha que ele não se esforça para alcançar tal mérito), que causa temor aos alunos, os quais sussurram pelos cantos teorias acompanhadas de apelidos como "Nazista". Isso cria um ar de curiosidade para a Alex e consequentemente para quem está lendo.
É notável que ele, Miles, tem algum problema em sua vida e quando o leitor descobre o que é, pode refletir sobre as coisas que parecem boas, mas que não provem de algo bom, como por exemplo, você pode achar que o seu amigo tem um apoio familiar quando na verdade ele sofre de muita pressão familiar (o que não é o caso do Miles. o dele chega a ser ainda mais complicado). Não algo que te impulsiona, mas algo que te empurra. Alex e Miles acabam se dando super bem porque ambos amam e sabem muito sobre determinados eventos de Histórias, e isso rende muitas brincadeiras bacanas entre o eles e o Clube, e informações históricas ao leitor.
Até agora eu não sei dizer qual é o elemento em destaque nessa história. Inventei você? é o tipo de livro que é bom por si mesmo. Não apenas pelo tema ou pelo romance. Todos os elementos presentes no livro leva o leitor de página a página, as vezes torcendo pelo momento em que Alex e Miles vão falar sobre o dia da Libertação das Lagostas — apesar de os dois se reconhecerem eles não conversam sobre aquele dia por achar que nem o outro não se recorda. Em outros momentos o leitor vai se pegar com a cabeça bugada e vai ser levado a fazer algumas perguntas. Não vai ter graça se eu disser, mas é impossível você ler a narrativa da Alex e não se questionar sobre alguns coisas como, a esquizofrenia, a família da personagem, o nosso meio social, o circulo de relacionamentos, entre outras coisas. A autora vai abrindo pontas e costurando pontas durante todo o livro, fazendo com que não se torne o tipo de história que só trás tristeza, drama, briga, desencontro e só se resolve tudo no final. Muito pelo contrário.
A leitura desliza entre linhas, os dias passam, os dias veem, e o leitor consegue ver que o enredo tá fluindo. Os personagens não se trata apenas se eles amadurecem ou não. É mais um mistério que tem a volta deles, e assim como o relacionamento da Alex e Olhos Azuis, Alex e Miles, tem também pequenas tramas ao redor, como Miles e o Tucker, um amigo e colega de trabalho da Alex que também estudam na mesma escola. Existe ali uma rixa sutil entre os dois rapazes, e eu digo sutil porque a Francesca toma esse cuidado de não tornar uma briga por "rivalidade". Soa mais como algum acontecimento que aconteceu antes da chegada da Alex e ela e o leitor vão ficando a par disso no decorrer do livro.
A Francesca tem uma escrita própria. Digo isso porque ela tem um jeito particular de criar e laçar a trama. Eu não gosto muito de estar comparando, mas quando eu vou lendo os livros gosto de ver o olhar mais técnico. O momento em que o autor está desatando um nó para amarrar lá na frente, a famosa Jornada do Herói ou A Jornada Princesas da Disney (conhece - briga - separa - felizes para sempre), mas não vi nada disso — e isso significa que eu não sabia o que ia acontecer no próximo capítulo ou mesmo no final do livro. Eu terminei a leitura e parece que aquilo tudo realmente aconteceu. Ficou aquela sensação de que foi real. Tinha mais realidade (inspiração da vida real) do que as técnicas de escrita criativa em si. Achei isso incrível.
O ponto alto de Inventei você? para mim, acho que se encontra no título. Antes de você ler, ao que você acha que ele se refere? Essa duvida te persegue durante a leitura e talvez até no final. Mas para mim, eu não vejo como algo físico, sabe? A maior guerra da Alex não é com os outros adolescentes. Não é com as espinhas ou coisas tão banais que a gente mata e morre. A maior batalha da Alex todos os dias é dela contra ela mesma. As vezes a mente dela ganha e as vezes a mente dela ganha, e essas duas coisas por mais que soem iguais, geram consequências diferentes.
Inventei Você? de Francesca Zappia é aquele livro gostoso para ler a qualquer momento (como uma leitura principal), e se você o escolher como um livro para te fazer companhia no ônibus, no metro, na escola, ainda assim vai acabar virando sua leitura primária porque pode prender tua atenção e teu carisma de jeito. Fica a dica para quem busca uma leitura de verão, de primavera e principalmente de inverno. É um ótimo presente para qualquer idade nesse Natal também! Não dê panos de prato ao papai e nem meias a mamãe, presentei-lhes com livros, beleza?
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6 comentários
Oi Jessie.
ResponderExcluirEu gostei bastante da premissa do livro, muito embora não seja um dos meus gêneros favoritos. Uma das coisas que mais amei, foi a facilidade com a leitura flui. Fiquei com muita vontade de ler.
Beijos.
Blog: Fantástica Ficção
Também não é o gênero que costumo ler (passa longe na verdade, haha), mas Inventei Você? foi um livro que me pegou de jeito. Fica a dica caso queira um livro sick-lit. ❥
ExcluirOlá!
ResponderExcluirO livro já me ganhou no trecho que você colocou no início kk
Gostei bastante da premissa dele, me deixou bem curiosa e com vontade de ler.
Sua resenha está maravilhosa!
E concordo plenamente, dar livros de presente é sempre a melhor opção! (Especialmente agora que as livrarias também precisam tanto.)
Beijos.
Fico feliz que tenha gostado. :D O livro por si só já é bem tocante e bem desenvolvido. Fica a dia. ❥
ExcluirOlá :)
ResponderExcluirPrimeiramente que blog mais fofinho ♥ eu amei o layout.
E Meu deus que resenha maravilhosaaaaa.... eu não conhecia o livro ainda, mas já está na minha lista de leitura. Nunca li nenhum livro com personagem que tenha esquizofrenia e fiquei bem curiosa.
Já quero saber tudo o que vai acontecer ♥
Amei ♥
ótima quinta
bjo
Tati C.
Olá, Tati
ExcluirObrigada pelo elogio. ❥ Foi o meu primeiro livro também, e tive bastante curiosidade em descobrir como a escritora contaria a história. Me peguei em duvida por diversas vezes a respeito do que estava acontecendo, haha.
Caso leia. desejo uma ótima leitura. ❥