Crítica // A Garota que Eu Quero de Markus Zusac #3 Trilogia Irmãos Wolfe

by - outubro 03, 2018



Sinopse: O Rube nunca amou nenhuma delas. Nunca se importou com elas. Nem é preciso dizer que Rube e eu não somos muito parecidos em matéria de mulher. Cameron Wolfe é o caçula de três irmãos, e o mais quieto da família. Não é nada parecido com Steve, o irmão mais velho e astro do futebol, nem com Rube, o do meio, cheio de charme e coragem e que a cada semana está com uma garota nova. Cameron daria tudo para se aproximar de uma garota daquelas, para amá-la e tratá-la bem, e gosta especialmente da mais recente namorada de Rube, Octavia, com suas ideias brilhantes e olhos verde-mar. Cameron e Rube sempre foram leais um com o outro, mas isso é colocado à prova quando Cam se apaixona por Octavia. Mas por que alguém como ela se interessaria por um perdedor como ele? Octavia, porém, sabe que Cameron é mais interessante do que pensa. Talvez ele tenha algo a dizer, e talvez suas palavras mudem tudo: as vitórias, os amores, as derrotas, a família Wolfe e até ele mesmo. 
|| Título Original: Getting the Girl #3 || Autor: Markus Zusac || Pág.: 174 || Editora: Intrínseca || Ano: 2013 || ISBN-13: 9788580573732 || Gênero: Romance, Juvenil || Skoob // Amazon


por Jéssica Faustino


              No terceiro e último livro da trilogia Irmãos Wolfe, "A Garota que Eu Quero", o mais conhecido dos três volumes escrito por Markus Zusac, atrás apenas de A Menina que Roubava Livros, acompanhamos a saga do garoto emocionalmente, psicologicamente e espiritualmente sensível, Cameron Wolfe, resolvendo finalmente os seus sentimentos com relação a relacionamentos amorosos. | Se você desejar saltar a resenha mais aprofundado e ler apenas as minhas conclusões basta rolar a tela até o final. (:

              “A Garota que Eu Quero” se inicia um ano após os acontecimentos de “Bom de Briga” (resenha aqui). Conhecemos um Cameron que achou que estava no caminho certo após ter passado por todos os acontecimentos anteriores em sua vida, mas infelizmente nada de novo tem acontecido. Seus pais vão bem e seus irmãos melhores do que nunca, inclusive Rube se mostra um mulherengo fino e isso acaba lhe trazendo alguns problemas mais tarde. Percebi que as coisas foram dando certo nos livros anteriores para o nosso narrador. Ele passou a estar ciente sobre a sociedade a sua volta, desenvolveu um pensamento crítico (mesmo que desvie um pouco as vezes da nossa linha de pensamento atual) e passou por algumas situações de amadurecimento. Porém, Cameron chegou naquela etapa em que acreditou que tudo iria correr bem dali em diante, mas não. Ele agora se sente estagnado. E quem nunca, não é?



              O título da obra parece um spoiler para quem já leu os livros anteriores porque nós já sabemos de certa forma quem é a garota que o Cameron quer, inclusive isso também acaba ficando explícito em alguns momentos no início do livro. Mas mais uma vez Markus passa a sensação de que não é só aquilo que estamos lendo e que algo mais vai acontecer. No início da leitura o livro tem um significado muito óbvio, mas por ser tão óbvio eu duvidei (já que não costumo ler sinopse), então com o passar da leitura e das coisas que vão acontecendo e deixando de acontecer na vida do Cameron Wolfe, a medida que eu fui entendendo os seus medos, como o de não ser ninguém, de não ser um ser humano bom e uma carência absurda que ele sente e que no início tentava preencher com pequenos furtos, boxe, pornografia, eu conseguir visualizar o título pelo outro lado.

Cameron disse certa vez que existem os vencedores e os lutadores: "um lutador pode ser um vencedor, mas um vencedor nunca será um lutador" e isso não fez muito sentido na hora, mas agora faz. Acredito que essa frase define os três volumes da trilogia inclusive "A Garota que Eu Quero". O foco principal nesse último volume é exclusivamente o Cameron, mesmo que sua família ainda esteja por ali no dia a dia, a história agora é dedicada exclusivamente a ele. A mesma narrativa característica de os Irmãos Wolfe permanece, o que é bom pois Markus não enche linguiça para ocupar as horas ou os dia-após-dia do personagem com cenas e acontecimentos desnecessários. Markus Zusak continua narrando apenas os dias que realmente aconteceram alguma coisa — o que acaba trazendo a sensação ao leitor de que nós estamos lendo algo real. Não estamos caminhando no presente com o personagem (exceto pelas partes das Palavras de Cameron). É uma narrativa no passado o que para mim, torna a leitura mais emocionante, porque diferente de uma narrativa no presente, onde o personagem tem a oportunidade de fazer as escolhas com a nossa supervisão, em A Garota que Eu Quero, praticamente já está tudo definido. A história já aconteceu e a vida do Cameron já foi traçada. O leitor só precisa chegar lá e descobrir o que aconteceu com ele.

              A maioria dos leitores de AGEQ nunca leram os livros anteriores o que me faz questionar como eles entendem a profundidade e a base dos sentimentos intensos do Cam, já que nunca leram sobre o seu passado (se você é um desses leitores, me diz o que achou do livro sem ter lido os anteriores, tá?). O que só acrescenta mais um ponto positivo ao autor, porque Markus consegue apresentar essa nova fase do Cameron nesse terceiro e último livro sem que os leitores que não leram os volumes anteriores sintam a falta deles. Claro que Cam cita alguns acontecimentos do passado, como o desemprego do pai há um ano, uma garota por quem ele já ficou muito afim e o Lulu da Pomerânia (um dognío muito amável), tudo por alto e quem acompanhou essas histórias em O Azarão (aqui) e Bom de Briga (aqui) está a par de mais informações — que ajudam até a enxergar o desenvolvimento dos personagens — do que aqueles que estão lendo "A Garota que Eu Quero" primeiro.

Apesar das poucas páginas eu demorei alguns dias para ler porque queria absorver os sentimentos em cada uma daquelas palavras. A obra tem menos de 200 (duzentas) páginas, mas eu me pegava parando diversas veze olhando para o nada e refletindo sobre meu passado, futuro e principalmente no que é que eu estou fazendo nos meus dias atuais. É o livro para se ler com experiência de alma, sabe?


              O leitor também percebe que no decorrer dos volumes os textos em cursivo presente entre cada capítulo vai mudando, no primeiro (O Azarão) eram sonhos, no segundo (Bom de Briga) são conversas entre ele e seu irmão, Rube, e ainda presente em A Garota que Eu Quero, estes foram os quais achei mais interessantes, pois é um lado do Cameron que ele não conhecia e depois de um episódio ele sente uma vontade absurda de colocar palavras para fora, e é onde o personagem começa a escrever textos sobre o que está acontecendo neste período de estagnação e os seus sentimentos. Não como um diário, mas apenas palavras: As Palavras de Cameron, como o próprio título diz no primeiro escrito.


“Nada vem fácil para um ser humano como eu. Isto não é uma queixa. É só uma verdade. O único problema é que agora tenho visões derramadas no chão da minha mente. Tenho palavras lá dentro que estou tentando fazer com que saiam. Tentando escrever. Palavras que vou escrever para mim. Uma história pela qual vou lutar. E assim começa… [...]”

              Bem, eu sou uma amante da escrita criativa então não importa se é uma narrativa em primeira ou terceira pessoa, se são crônicas ou simples textos, eu vou gostar de ler sobre alguém que escreve ou sobre o que as pessoas sentem vontade de escrever. São palavras e eu gosto delas. Mas dependendo do seu ritmo de leitura pode ser sim que você se encontre ansioso para pular essas partes em. Eu gostei e apesar de sentir esta mesma vontade em alguns momentos, ainda assim eu as li porque "As Palavras do Cameron" de certa forma é o Cameron. É o personagem e isso me ajudou a entendê-lo um pouco mais. A questão também é que Cameron é um dos personagens mais humanos que já conheci, onde o autor escreve sobre problemas e crises de identidades reais e para mim, quanto mais humano, mais os personagens são complexos. Os seres humanos em si são complexos.

Quando acordei, no dia seguinte, escrevi em um papel rasgado. E, para mim, o mundo mudou de cor naquela manhã.” — Cameron (A Garota que Eu Quero)

Mais uma vez eu fiquei com aquela sensação de também estar lendo um pouco sobre a vida do escritor, algo que comentei na resenha anterior e ressaltei que costumo encontrar essas semelhanças em livros de autores masculinos. Isto de estar lendo uma situação, lendo um pensamento ou um sentimento de algum dos personagens e parecer que ele está saindo diretamente dos ideais do autor. É claro que todo escritor (homem e mulher) coloca um pouco de si em suas obras, mas é mais reconhecível nos escritores e se as escritoras o fazem (que tenho certeza que sim) elas conseguem camuflar com mais facilidade e parecer apenas e tão somente ficção (exceto por alguns gêneros literários como a poesia e alguns romances mais clássicos. atualmente eu encontro essas características nos Chick-lit). Uma situação e um pensamento, se não somente do personagem, será de todo o mundo e não apenas algo particular dela. Acho as duas técnicas muito boas, apesar da primeira parecer um pouco polêmica. Mas não é uma coisa que tenha me incomodado na leitura, pelo contrário, é bom ler uma obra e de alguma forma identificar o escritor.

Talvez alguns realmente não goste do volume ou de nenhum dos três, mas eu particularmente gostei. Não é aquele livro que alcançou nota máxima ou que tem algo fantástico e inovador no mundo da literatura. É o tipo de leitura particular e que me acrescentou algo como pessoa. A trilogia ficará guardada no meu coração. Me reconheci tendo algumas conexões com a família do Cam e até com ele em determinados momentos.

C O N C L U S Ã O
              Eu indicaria o livro para todas as pessoas, mas particularmente aquelas que não tem um padrão para o gosto de narrativas, já que o Markus Zusak tem uma escrita própria nessa trilogia. Recomendo que comecem por O azarão até o terceiro volume porque assim conseguirá entender a linha de pensamento do personagem e o personagem, assim como entender o modo de se relacionar da família Wolfe. Mas bem, se você não estiver disposto a entender um livro, abrir sem expectativas e ler o que ele tem a te oferecer, você pode pegar o melhor livro do mundo e ainda assim não gostar dele. Então, seguindo essa linha de raciocínio, fica a indicação aos leitores de Young Adult, porque estão mais familiarizados com essa construção indireta de personagens, apesar do livro ser um Romance (não no sentido romântico). Inclusive se você espera por um romance romântico e um amor de partir o coração, não vai encontrar aqui, porque apesar do nome do livro dá a entender isso, acredito que ele tenha um significado mais amplo e o casal da história só vai se formar lá pra depois da metade. É um bom livro para dar de presente também, tanto para as meninas como para os meninos — este último é provável que se interesse mais pela leitura se ler os dois volumes anteriores já que abordam temas mais juvenil que não estão ligados particularmente a um envolvimento amoroso com garotas, assim como as meninas que também não estão somente afim de ler um romance romântico.

"O cachorro aparece acima de mim, olhando para baixo. Faz com que eu pense em todas as outras pessoas espancadas no becos. Todos os vencedores. Todos os lutadores. Todos os perdedores. E todos os que se recusam a ficar caídos. Ele espera Ele me observa. Demora um pouco, mas me ponho de pé. Olho para ele — é preciso tomar uma decisão. O desejo me percorre. E me inunda. Transborda. Incendeia-se em meus olhos, e eu contemplo o beco. Começo a andar, através da dor, sempre decidido. Encolhendo. Sabendo. Dizendo ao cachorro que vou lutar. Com o desejo escrito nos olhos." — Cameron Wolfe (A Garota que Eu Quero)


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