O Suposto Prazer do Término // Diário de Escrita #3 (e Confidencial #12)
Olá você, tudo beleza?
Há um tempo eu venho desejando poder finalizar uma história que iniciei no Wattpad, no entanto acabei tendo algumas ideias novas para um gênero totalmente diferente (o qual é a minha paixão na hora da leitura), mas eu sabia que escrever dentro dele seria um desafio, já que exige muito mais criatividade, pesquisas científicas, etc, etc... Mas levando em conta tudo isso, concluir um livro dentro desse gênero se tornaria uma realização pessoal. Eu passei umas três semanas, dia após dia, café da manhã, lanche da tarde, jantar, planejando e inventando toda a parte técnica e o esqueleto da história. Quando terminei essa etapa já estava orgulhosa e finalmente poderia focar apenas na escrita da história, mas travei. Poucos dias depois eu resolvi escrever um conto.
Dizem que quando você deseja começar a escrever um livro deve optar por um Conto, já que o mesmo é curto e consequentemente mais rápido de ser finalizado, mas isso não era o meu caso porque eu realmente sabia o que estava fazendo, o que queria e por onde ir. Eu tinha certeza (e ainda tenho) que consigo fazer isso. Dar uma pausa no meu projeto Anterior (e principal) para começar um conto aparentemente aleatório surgiu na verdade da minha necessidade em simplesmente terminar uma história. Sim. Eu queria, precisava, ansiava em colocar um ponto final e chegar logo aos "felizes para sempre". Eu simplesmente escreveria aquela história. Escreveria. Escreveria. Escreveria sem todo o planejamento que eu sempre montei. Eu não só queria como precisava escrever uma história onde ela apenas fluísse e assim eu a acabaria mais rápido (mesmo que precisa-se voltar revisando e editando depois, mas ainda assim não seria o mesmo peso que o projeto Anterior que eu havia empilhado no canto da escrivaninha) e poderia ter a certeza que eu terminaria aquilo ao invés de virar só mais um rascunho digital.
Já no meio dessa experiência percebi que talvez eu estivesse com medo e me autofrustrando, já que sempre iniciava um projeto e não o acabava, sendo os meus rascunhos de escrita criativa os que mais sofriam com isso. Ou seja, aquele Conto — que já tinha deixado de ser um conto a muito tempo — que eu havia iniciado e escrevia desesperadamente servia apenas para provar a mim mesma que eu sou capaz de finalizar uma história. Do parágrafo inicial a cena final. Eu estava escrevendo ontem e olhando o meu caderninho onde estava um esqueleto bem básico desse conto-que-não-é-mais-conto eu vi, eu percebi, eu finalmente enxerguei algo que já era não só visível como palpável, porém eu ainda não tinha analisado que aquilo que eu estava fazendo era algo ruim.
Eu sou uma pessoa ansiosa e já sei lidar com essa Ansiedade em algumas situações da minha vida, mas estava começando a suspeitar a algum tempo da presença dela em outras áreas que não fosse apenas a social. Eu sempre soube e minha mãe sempre fez questão de me lembrar que eu nunca tive muita paciência para nada e muito menos no que se diz respeito a espera. Eu saía de casa para ir na rua e eu não via a hora de chegar no lugar marcado, eu ia tomar sorvete e não via a hora de estar com o sorvete na barriga, eu ansiava para ver meu namorado e não via a hora para que ele chegasse, eu anseio tanto para escrever que não vejo a hora de colocar o ponto final na história. Por muitas vezes passei dias, semanas e meses sem rabiscar uma frase e agora eu pude perceber que eu anseio tanto para escrever o livro até o final que a escrita se tornou um processo doloroso. Ontem percebi que eu me preocupo mais em finalmente terminar uma história do que escrevê-la em si. E então eu parei. E tudo fez sentido.
Eu ainda não sei o porque que eu tenho essa necessidade de chegar nos finalmente. Talvez eu fique tão empolgada, tendo tantas certezas das minhas expectativas, que eu simplesmente não vejo o tanto de paisagens bonitas passando na minha janela porque os meus olhos estão fixos na placa que anuncia a chegada. Eu não percebo as pessoas e os estabelecimentos novos que abriram na cidade, eu não saboreio o gosto do sorvete, o gelo deixando a minha língua dormente e nem o prazer e o sabor daquela sobremesa escorrendo na minha garganta porque eu estou ocupada demais no suposto prazer final, ou como denominei esse caso O Suposto Prazer do Término, que é quando você fica ansiando pela satisfação de completar uma tarefa que não consegue aproveitar o seu processo. O meio. A minha Ansiedade parece não me permitir sentir o prazer do Meio. A minha Expectativa está no Início, a minha Realização está no Final, mas eu fico frustrada, triste e acabo pulando de história em história porque eu nunca havia parado pra pensar no Prazer que está no Meio e... CAAARA: O MEIO é a parte maior da história, e não só da história que eu escrevo, mas da história que eu vivo e...
BUM!
Eu senti como se isso "não aproveitar o processo de escrita" fosse a resposta da minha infelicidade escrevendo ontem (20/09) e agora a minha cabeça quase explodiu ao perceber que "eu preciso aprender a lidar e a experimentar o prazer do meio. Isso está fazendo tanto sentido na minha cabeça que eu me sinto burra e ao mesmo tempo, ao perceber o tamanho do poder que essa mudança de hábito nos proporciona, eu sinto como se estivesse descoberto a chave da vida produtiva.
Eu comecei a pensar sobre isso porque eu passava a semana toda pensando em ver o meu namorado e quando ele chegava no final de semana, quando ele finalmente estava do meu lado, eu não aproveitava porque agora estava ocupada demais preocupada com o momento em que ele precisaria ir embora. O mesmo estava acontecendo no meu processo de escrita: a minha mente pensava tanto na satisfação da realização de ter um livro completo, pronto para ser lido que o meu Eu completo não sentia prazer enquanto eu escrevia. Quando eu concluí isso eu pensei: poha menó, nue que é verdade!? Então de ontem pra hoje eu consegui escrever muito mais.
Eu sempre tive em mim que o que você quer fazer, você pode fazer e o que vier (reconhecimento e crescimento) é consequência. Mas mantenha sua mente em você. Parece clichê, mas eu sempre acreditei que se você fizer por amor, só o prazer de poder fazer já te satisfaz. Mas então por que eu ficava de preguiça com o blog? No Instagram? Com os meus livros? Se eu os amo?
Porque apesar de sentir o prazer de ser capaz de fazer, eu não sabia sentir o prazer de já está fazendo.
Eu queria postar no Instagram, mas o processo de elaborar uma foto já me fez afundar no sofá — e não que isso tenha mudado, inclusive preciso encontrar meios de contornar isso. Por outro lado eu estava muito insatisfeita com o Instagram porque eu não sabia se o estava aproveitando do jeito certo. Eu não quero só mais uma conta de livros por lá, eu queria poder alcançar as pessoas de verdade. Fora da tela. Trocar experiência de verdade. Falar sobre aquilo, debater um livro, trazer algum projeto de leitura para a minha pequena cidade, e isso estava me corroendo até que a Isa (@lazzluiza) ao responder um storie meu me aconselhou:
“é melhor fazer por você e o que vier ou o que ou quem você atingir vai ser consequência.” - Manhães, Isabela.
E isso era exatamente o que eu pensava, mas a forma como ela falou, como disse um colega meu para mim ontem a noite “você pegou o que eu disse e escreveu de uma forma melhor, que faz sentido e bem mais simplificada”. No mesmo instante, o que a Isa disse tranquilizou o meu coração no que dizia respeito ao Cacto Florido. É muito mais fácil, coerente e certo você ser quem você é e falar do que você gosta (seja literatura, cinema, culinária ou a melhor pasta de amendoim) do que descobrir o que os outros querem e falar sobre isso (caso você não esteja pensando em marketing e propaganda para obter grana), porque aí você não seria mais você e não faz sentido você tentar ser quem você não é. Mas se tu continuar espalhando a sua arte, quem se sentir acolhido por você, quem possuir interesses em comum, vai chegar até você. Isso foi como se removesse meio milheiro de blocos dos meus ombros, obrigada Isa (blog da Isa).
Hoje (21/09) pela manhã eu estava terminando de assistir a um filme que havia começado ontem a tarde, o qual tinha uma personagem que já sabia qual faculdade queria cursar. Elá demostrou ser uma pessoa bem "culturada" e queria que o seu escritor favorito fosse o seu mentor na universidade que ela estava prestes a entrar justamente por causa dele, e apesar de saber que o mesmo não monitora os calouros a personagem tinha certeza que ele a aceitaria porque ela já sabia exatamente onde queria chegar e o caminho que a levaria até lá. Ou seja, uma pessoa firmada e bem resolvida. O que ele lhe disse enquanto tomavam um chá, foi:
"— Seja meu conselheiro, no ano que vem. Eu não vou desapontá-lo.
— Você é uma jovem muito séria. — o mentor respondeu.
— Ah, obrigada!
— Isso não foi um elogio. Você está correndo para algum lugar e sua jornada vai acabar lhe dando quase nenhum prazer. Vá mais devagar. A faculdade não precisa ser apenas para estreitar seu foco. Ela serve para aumentar a sua experiência."
Mas as palavras que grudaram na minha mente foram justamente essas:
“você está correndo para algum lugar e sua jornada vai acabar lhe dando quase nenhum prazer.”
Eu acho tão bizarro e magnífico como quando você está passando por uma situação e se depara com algo assim, como se estivesse sido preparado diretamente para você. Naquele momento em que eu estava vendo a garota frustrada e desapontada com ele eu a entendia, mas principalmente eu sabia que o mentor tinha dito palavras para ela que valiam muito mais do que se ela o tivesse como guia.
Algumas coisas na nossa vida não é para serem feitas rápido demais. Algumas coisas simplesmente não precisam ter pressa. Você não precisa correr, pular pedras, saltar penhascos, atravessar um lago de fogo, como se fosse um ser imparável que sabe exatamente para onde está indo e almeja isso, porque você simplesmente já sabe para onde quer ir e o que você quer fazer e isso é simplesmente o mais importante. As vezes estamos com tanta pressa e tão determinados em sentir a satisfação de uma tarefa cumprida que acabamos atropelando tudo e consequentemente ficamos machucados e cansados no meio do caminho. Viver um dia de cada vez nunca fez tanto sentido como faz hoje — e olha que eu nem gostava desse mantra. Mas se você caminhar hoje talvez faça amizades com alguém lá na frente e se você caminhar amanhã talvez tenha onde passar a chuva na casa desse alguém. Se você simplesmente for caminhando o seu caminho, vai enxergar os presentes e o prazer que está no Meio, estes que você não desfrutará se estiver correndo. E o Meio é a maior parte do seu percurso. A Satisfação só vem quando tudo acaba. E quando tudo acaba você já não está mais vivo. Oitenta anos se passaram, você se sente cansado por ter lutado tanto, corrido tanto, percorrido uma longa estrada de desafios, mas apesar de estar onde queria, de sentir-se satisfeito, você não sentiu Felicidade na maior parte da sua vida! Isso se a frustração não te matar do coração antes de sentir a satisfação.
Eu escrevi isso tudo para dizer que eu entendi que o processo de escrever é prazeroso e que eu devo aprender a sentir isso. Não estou falando sobre aceitar fazer qualquer coisa que eu não gosto, mas que nesse caso em especial, onde eu sei o que eu quero e sei para onde estou indo, o processo de criação também é divertido e deveria ser a parte que mais empolga um escritor. Sabe quando você fica com medo de se divertir? Se policiando a ponto de se privar? É sobre isso também. Não seja tão sério, o Meio é para ser divertido e prazeroso também. No mais, é isto.
21 de Setembro de 2018.
Obrigada pela visita, pessoal e até o próximo post. 💕
créditos: foto base inicial por Pineapple Supply Co. (Unsplash) foto seguinte por Jaroslaw Ceborski (Unsplash). | Edição por Cacto Florido blog.
3 comentários
Jessie adorei essa parte do filme que você destacou. Realmente a gente tende a olhar só lá na frente, na chegada. Mas a beleza da vida está no meio da história.
ResponderExcluirAh e muito legal saber que você escreve! Não tenho o costume de entrar no wattpad, mas vou dar uma conferida no que tem por lá!
Olá CLaudia,
Excluirfico feliz que tenha gostado e obrigada pela visita. ❥ ❥
Sinto exatamente a mesma coisa que você e ler seu texto foi aliviante. Obrigada.
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