Crítica // Sejamos Todos Feministas de Chimamanda Ngozi Adichie

by - agosto 01, 2018



Sinopse resumida: O que significa ser feminista no século XXI? Por que o feminismo é essencial para libertar homens e mulheres? Eis as questões que estão no cerne de Sejamos todos feministas, ensaio da premiada autora de Americanah e Meio sol amarelo.
"A questão de gênero é importante em qualquer canto do mundo. É importante que comecemos a planejar e sonhar um mundo diferente. Um mundo mais justo. Um mundo de homens mais felizes e mulheres mais felizes, mais autênticos consigo mesmos. E é assim que devemos começar: precisamos criar nossas filhas de uma maneira diferente. Também precisamos criar nossos filhos de uma maneira diferente."
Chimamanda Ngozi Adichie ainda se lembra exatamente da primeira vez em que a chamaram de feminista. Foi durante uma discussão com seu amigo de infância Okoloma. "Não era um elogio. Percebi pelo tom da voz dele; era como se dissesse: ‘Você apoia o terrorismo!’". Apesar do tom de desaprovação de Okoloma, Adichie abraçou o termo e - em resposta àqueles que lhe diziam que feministas são infelizes porque nunca se casaram, que são "anti-africanas", que odeiam homens e maquiagem - começou a se intitular uma "feminista feliz e africana que não odeia homens, e que gosta de usar batom e salto alto para si mesma, e não para os homens". || Nota: 5.0/5.0
|| Tírulo Original: We Should All Be Feminists || Autora: Cimamanda Ngozi Adichie || Pág.: 63 || Gênero: Não-ficção, Memórias || Editora: Companhia das Letras || Ano: 2014 || ISBN-13: 978854380172 || Skoob // Amazon


por Jéssica Faustino

              Acredito que a maioria das pessoas já sabem, mas se você é como eu e não estava ciente, Sejamos Todos Feministas, publicado pela primeira vez em Julho de 2014 e aqui no Brasil pela editora Companhia das Letras, é na verdade um discurso dado pela
Chimamanda Ngozi Adichie em Dezembro de 2012 no TEDx Euston, uma conferência anual focada na África, visando "desafiar e inspirar africanos e amigos da África", palavras da autora.

Eu baixei o e-boook quando estava disponível na Amazon (e ainda está e você não precisa ser assinante), e entre uma leitura e outra de Julho, sentei-me no sofá enquanto fazia fotos para minha conta literária no Instagram e acabei lendo todo o e-book. Ou seja, o livro, mesmo sendo uma adaptação do discurso é mesmo curtinho e da para ler, literalmente, em uma sentada. Eu nunca olho a quantidade de páginas de um livro digital então o tamanho dele para mim é sempre uma surpresa no fim da leitura.

O que achei muito bacana é a linguagem usada no livro que é muito simples! Nada de burguesia dentro dele (risos, se é que vocês me entendem) e eu como uma leitora e ignorante no assunto que é o Feminismo, acho isso essencial em obras que tem como único foco informa alguma coisa, nesse caso um movimento que vem crescendo e tomando força nos últimos tempos. Este, do qual eu nunca havia me interessado em estudar, fiquei apenas por cima, buscando o seu significado, mas nós (principalmente nós mulheres) acredito que é sempre bom estarmos informados sobre aquilo do qual estamos sendo, de certa forma, inseridas. Abordadas. Estudadas? Não encontro a palavra certa, mas espero que tenham entendido. Aquilo que nos diz respeito diretamente.

              Acho que esse é o diferencial de "Sejamos Todos Feministas", a maneira que Chimamanda aborda um tema que deveria ser simples, mas que acabou se tornando controverso até mesmo entre a população feminina. Chimamanda Ngozi Adichie apresenta elementos muito comuns do cotidiano, e não estou falando sobre ter o direito de ficar com todo mundo, manter relações sexuais com quem quiser ou poder sair de short curto depois das vinte e duas da noite (não que eu esteja desmerecendo tais assuntos). Mas ela dá ênfase principalmente em como é difícil ser uma mulher nigeriana no país dela com relação a coisas que é muito menos rígidas em nosso país (Brasil). Em como ela sequer pode entrar em alguns estabelecimentos sem que esteja devidamente acompanhada por um homem, o que leva algumas mulheres a pedirem a desconhecidos na balada o favor de entrar de braços dados com ela para que possa se divertir como todos os outros. E talvez você pense: mas deve ser a cultura do país dela. Eu pensei isso, e cheguei a conclusão que: quando termina a "cultura" e começa uma sociedade opressora? Pensei sobre isso também quando vi um noticiário de uma índia que teve um bebê com má formação na perna e foi queimado vivo por sua tribo (e servido as cinzas num mingau), era uma criança portadora de alguma doença, porém vivo. Quando é que nos devemos interferir? Voltando ao assunto... Existem vários outros exemplos sobre situações machistas, mas é impressionante que grande parte deles afetam o mundo todo, inclusive no meu país, na minha cidade e na minha rotina diária.

Não é aquele discurso que você ouve e sabe que está sendo manipulado. São reais, são sinceros e graças a sua escrita (e a tradução que ajudou bastante) qualquer pessoa (homem mulher, criança, jovem ou idosos) se identifica em uma das posições apresentadas nas situações descritas no livro. Chimamanda não sai gritando que todos são machistas ou aborda o Feminismo e machismo de uma forma agressiva, pelo contrário é um livro muito mas "didático". Ela vai te apresentar situações e vai te questionar, isso é normal? E o que é o normal?

"Se repetimos uma coisa várias vezes, ela se torna normal. Se vemos uma coisa com frequência, ela se torna normal. Se só os meninos são escolhidos como monitores da classe, então em algum momento nós todos vamos achar, mesmo que inconscientemente, que só um menino pode ser o monitores da classe. Se só os homens ocupam cargas de chefia nas empresas, começamos a achar "normal" que esses cargos de chefia só sejam ocupados por homens."

              O que me fez dar cinco estrelas a um livro tão fino para um tema tão amplo foi justamente o respeito, a simplicidade e o encorajamento que predominam em apenas 63 páginas. Apesar de não estudar sobre o Feminismo, já vi muita coisa na internet, muita merda na verde (perdoem-me o palavreado), onde só tem desrespeito e ofensas. Uma parcela da galera que sofre algum tipo de preconceito acaba odiando todo o outro grupo de onde, uma determinada porcentagem, da origem a opressão, e sei que para alguns não existe isso de preconceito reverso, e sei também que existe a diferença de femismo e Feminismo, mas mesmo no meio das ovelhas brancas, daqueles como a Chimamanda que estão apenas buscando o direito de transitar livremente, de pagar o jantar sem que o macho se sinta menos macho, estão as ovelhas negras que permeiam um movimento social bom apenas para dispersar os que estão buscando mudanças — o que acaba gerando aquela confusão de mulheres que lutam por direitos iguais (feminismo) e aquelas que odeiam os homens (femismo).

Tem gente que conheço que sequer gosta de ouvir as palavras feminismo e machismo, simplesmente porque relacionam as palavras aos grupos que sentam o dedo no teclado para xingar todos os homens, os héteros, e as mulheres que possuem valores diferentes como as religiosas. O discurso de Chimamanda é certeiro e tocante. Ela não quer a declaração de um sexo ou uma opção sexual sobre a outra, ela quer igualdade. Liberdade e respeito. E deseja conquistar isso sem precisar ofender todo o resto. Ela é sim firme em seus ideais e por diversas vezes me peguei me identificando com ela, como na seguinte passagem:

"Toda vez que eles me ignoram, eu me sinto invisível. Fico chateada. Quero dizer a eles que sou tão humana quanto um homem, e digna de ser cumprimentada. Sei que são detalhes, mas às vezes são os detalhes que mais importam."

Por diversas vezes comentei sobre isso com meu namorado e até achei que era bobagem minha, mas recentemente uma ex colega de escola minha compartilhou com palavras diferentes, a mesma situação e o mesmo sentimento. Se eu tivesse conhecido essa moça antes, teria aberto uma exceção no post de Pessoas que eu gostaria de conhecer ou ter conhecido, e colocado uma sexta personalidade, que seria ela. 

É um livro pequeno, porém bem direcionado no seu proposito. É um livro que todos (como o próprio título diz) deveriam ler. Não importa se você é um homem, é mulher, Cristão, eleitor de Bolsonaro, leia. Da para ler no caminho para casa, no intervalo da sua novela e não vai "fazer uma lavagem cerebral" em você, okay? É apenas um ótimo livro para quem quer conhecer mais sobre o Feminismo, sobre a Chimamanda e o que a fez ser feminista (já que nem ela sabia que era), e principalmente para não espalhar discurso de ódio na internet. Conhecimento nunca, nunca, é demais! Até o próximo post pessoal.

Siga-me nas redes sociais.

You May Also Like

0 comentários