Crítica // “Bom de Briga” de Makus Zusak por Cacto Florido blog
“Um lutador pode ser um vencedor, mas isso não faz de um vencedor um lutador.” — Cameron (Bom de Briga de Markus Zusak) || Leia a resenha do livro #1 aqui.
Sinopse: Na continuação do sucesso O azarão, Markus Zusak apresenta o emocionante Bom de briga. Se no primeiro título o autor traz um romance de formação de um jovem incorrigível, infeliz consigo mesmo e com sua vida, agora ele exibe dois irmãos em busca de um propósito na vida. Bom de briga retrata a evolução dos irmãos Cameron e Ruben Wolfe como seres humanos. No primeiro livro, a dupla estava sempre atrás de algo errado para fazer. Dessa vez eles entram no mundo das lutas amadoras de boxe, buscando independência para suas vidas. Enquanto Ruben mostra um talento nato para a coisa, o outro tenta apenas sobreviver. Tudo que é ruim é normal no dia a dia da família Wolfe - como os silêncios, as brigas, a pobreza, a mediocridade. Eles já se acostumaram com isso e sempre têm uma justificativa para tanto. Cameron, o mais novo, é o exemplo do jovem batalhador. Desde cedo apanha e se levanta, mostrando que o que importa não é a força da pancada, mas se você tem a força necessária para se reerguer. || Nota: 9.8/10 - 4.8 História e .5 Edição
|| Título Original: Fighting Ruben Wolfe #2 || Autor: Markus Zusak || Pág.: 206|| Gênero: Romance, Juvenil || Editora: Bertrand Brasil|| Ano: 2013 || ISBN-13: 9788528616538 || Skoob // Amazon
por Jéssica Faustino
O início do livro nos mostra como as coisas pioraram na casa dos Wolfe, a senhora Wolfe tem trabalhado e o pai ficou desempregado depois de um acidente no trabalho. Em meio a uma casa com o orgulho ferido do alfa maior e uma mãe tentando trazer o alimento para o lar, o leitor percebe que os dois irmãos mais velhos, Sarah e Stive, não podem ajudar a pagar as contas atrasadas por puro orgulho dos pais em não demonstrar que as coisas estão indo mal. Mas Cameron e Ruben, os mais novos, sabem como a situação financeira da família está decaindo, podem ver nas pequenas ações diárias, desde seu pai batendo na porta dos vizinhos procurando por bicos, até brigas pelo seguro desemprego. Os pais discutem os atrasos à noite na mesa da cozinha, o irmão mais velho está indignado e sob aviso de ir embora de casa e a irmã está pegando fama de “vadia” na escola. E por mais que ninguém espere nada dos caçulas, são os dois quem mais notam as mudanças, mesmo que os demais pensem que eles são apenas mais duas bocas para alimentar.
A dificuldade financeira e essa visão sobre si mesmo é o estopim na vida de Rube e Cam. Se em “O Azarão”, narrado pelos olhos do próprio Cameron, conhecemos as suas dúvidas e paranoias quanto a crise existencial, em “Bom de Briga” os holofotes estão sobre os dois irmãos, ainda que mantendo o mesmo narrador. Nesse livro vemos Ruben e Cameron Wolfe em uma guerra contra o mundo (hipoteticamente falando) e lutando (literalmente) para que seus sobrenomes seja muito mais do que as migalhas que as pessoas e sua própria família espera deles.
"Agora estou pronto. Estou pronto para ficar de pé, custe o que custar. — Cameron."
Sabe aquele livro que é bom simplesmente por ser ele? Por sua escrita própria, pela dinâmica na narrativa e o modo de construção e apresentação dos personagens? Ao ler a trilogia Irmãos Wolfe você pode dar menos de três estrelas por interpretá-lo mal ou mais de 4 por achá-lo diferente. Como escrevi na resenha do primeiro volume (O Azarão) talvez ele não te faça achá-lo fantástico, mas é um romance urbano, onde Markus Zusak consegue descrever situações cotidianas nos seus personagens, me impulsionando a pensar sobre aquilo.
"—Vamos sair dessa. Temos que sair. Vamos nos arrastar, gemer, lutar, morder e latir para qualquer coisa que fique no nosso caminho ou tente nos caçar e atirar em nós. Está certo? — Ruben."
Eu achei que o autor conseguiu apresentar melhor a confusão particular dos dois jovens (e até dos irmãos mais velhos) nesse segundo volume — até porque, antes, o adolescente Cam tinha seus quinze anos e não entendia o que lhe estava ocorrendo. Não sabia se o problema era com ele ou com o mundo, mas agora o que importa é o que ele e seu irmão, Rube, fazem com esses problemas. Então, a escrita mais emocional e o desenvolvimento do pensamento crítico do narrador (Cameron) estão mais trabalhados. São mais claros e concretos, justamente pelo processo de crescimento anterior que eles passaram.
Em resumo, indico o livro para todas as idades sob a proposta de voltar a lembrar como nosso psicológico/emocional tende a funcionar nessa idade, e para se ter um aproveitamento completo da história de Cam e sua família aconselho que leia antes o primeiro volume, que apesar de não ser essencial acredito que fique mais emocionante quando se sabe a trajetória por trás dos personagens.
"— Como foi? — Rube pergunta a si mesmo. — Não sei exatamente, mas me deu vontade de uivar."
Eu me encanto facilmente por livros que me fazem pensar e Markus parece o tipo de autor que incita isso. Bom de Briga é aquela obra que você lê e sempre que dá uma pausa sente-se mais poderoso, com coragem e disposição para qualquer coisa. E bom, se ainda assim não acrescentar em nada na tua vida e você achar uma história simples demais, você ainda terá ótimos quotes para destacar e postar no Twitter (@Jessiefaustino_).
No segundo livro a escrita e o ar característico de O Azarão continua, mas a uma áurea nova. Aquela interrogação que deixa o leitor ansiosa e apreensivo para o que o autor vai fazer. Bom de Briga segue por uma narrativa mais rápida que a obra anterior e com o espaço e tempo mais devagar, já que Markus não pula tantos dias como fez em O Azarão, e é notável que dessa vez, desde o início, o leitor sabe que ele preparou algo no meio da história. Nesse livro você não está apenas caminhando e vivendo os dias junto com Cameron, porque o leitor sabe que irá chegar em algum lugar. Algum estopim que provavelmente desenvolverá a narrativa até o plot twist.
Em partes de escrita técnica o autor foi criativo e ótimo — isso me encantou tanto que continuei lendo mais como alguém que escreve do que como uma leitora, então acho que isso interferiu um pouco na minha opinião. A trilogia não é sobre dois meninos especiais e é por isso que a acho válida. É história escondida dentro de casa de muitos na vida real. O autor não se inspirou para escrever um parágrafo ou jogar uma crítica aleatória, mas as reflexões e as dificuldades… é todo o livro. É a vida toda dos garotos em 206 páginas.´
E eles são encorajadores de um jeito muito simples e que pode ser até bobo.
"— Eu sou Ruben Wolfe. E você é Cameron Wolfe. Isso tem que começar a querer dizer alguma coisa, garoto. Tem que começar a agitar alguma coisa dentro da gente, fazer a gente querer ser alguém para esses nomes, e não apenas outro par de caras que não fez mais do que as pessoas diziam que faríamos.""Bom de Briga" é o sucessor de "O Azarão" (este, o primeiro livro da trilogia) seguido por "A Garota Que Eu Quero" o último e também o livro mais conhecido dos três.
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