[+16] Corte de Espinhos e Rosas de Sarah J. Maas, o que eu achei?

by - maio 09, 2018



Por Jéssica Faustino

           Humanos. Feéricos. Medo em ambas as partes. Sentimento de escravidão dos dois lados. Depois de anos se encontram divididos por um Tratado onde a raça Feérica não invade a terra dos Humanos e não mais os escravizam como antes. As histórias sangrentas ainda existem — principalmente nas terras humanas que faz fronteira com a Muralha — junto com a culpa dada aos Feéricos pela desgraça deles, pois habitam numa terra quase infértil e precisam aprender a se vivar sozinhos para se alimentar e sobreviver. Mas toda essa culpa parece estar numa posição até mesmo acima dos Grão-Senhores (os líderes): um tipo de doença que está condenando as Sete Cortes (lê-se Côrtes = palácios). Cortes de Espinhos e Rosas nos oferece uma guerra de poder com direito a amores, traições e muitas, muitas mortes.
"Mortais não tinham magia; não possuíam nada da força e da velocidade superior dos feéricos ou dos Grão-Feéricos."
            Morando numa mansão envolta de lindos jardins, feéricos que podem ser mortais, comida em abundancia e magia por todo lado (um completo contraste do seu lar: duas irmãs e um pai egoístas que dependem dela para não apodrecerem até a morte) Feyre, a filha mais nova, deseja saber se existe uma outra brecha no Tratado: as famosas letrinhas pequenas que nunca lemos; mas que possa permitir o seu retorno para casa e deixar para trás Taimlin e todos os outros feéricos que parecem desprezar e subestimar a raça humana, tanto quanto os próprios os desprezam.

Peguemos um pouco de A Bela e a Fera aqui, mas ao invés da Feyre ter roubado uma flor ela assassina a sangue frio um lobo/feérico na floresta e sua vida é reivindicada por Taimlin, onde segundo o Tratado: uma vida deve ser paga com outra. E é dessa forma que aparentemente a autora usou para fazer a personagem deixar sua casa e sua família (ingrata, fria e pobre), sendo obrigada a ir morar depois da Muralha, onde os temidos feéricos e seres piores habitam, e mesmo à distância ainda causam medo nos humanos. Com essa questão de como atrair a Garota até o seu Destino resolvida, a vida de Feyre e a história começa a sutilmente ser transformada.

R E S E N H A

        Um dos principais pontos negativos de quem já leu e resenhou ACOTAR é sobre a lentidão da leitura. Talvez, há algum tempo eu teria abandonado o livro pelo mesmo motivo, mas a Sarah J. Maas inovou nessa fantasia romântica trabalhando uma nova espécie (foi também a primeira vez que vi a moça ir a batalha para resgatar o princeso). Então, esse é um primeiro volume escrito para que conheçamos o terreno onde a história é ambientada. Ele serve de base para o desenvolvimento da história.

Boa parte desse primeiro volume é sobre a adaptação inconstante e indecisa de Feyre na Mansão e com ela vamos conhecendo seu anfitrião, Taimlin, Grão-Senhor da Corte Primaveril e Lucien, seu melhor amigo, braço direito, morador da casa, mensageiro... ou seja, multifuncional e até babá as vezes. É durante a convivência de dias após dias que os três vão se conhecendo pelo olhar narrativo da moça. No decorrer do tempo as duas raças vão rompendo preconceitos que existiam entre elas e aprendendo que como no próprio círculo, nem todos são maus ou bons. Paralelo a isso o leitor vai recebendo informações e descrições que o ajuda a entender um pouco de Pritian e esse mundo criado pela Sarah J. Maas.

A forma como a autora conduziu a personagem para que pudesse descobrir coisas que são necessárias para a trama ser montada a fez parecer, não impulsiva ou dona de si, mas teimosa. Ingrata e desobediente. Como o próprio Lucien (Grã-Feérico da Corte Outonal) disse: burra. Teve muitos momentos em que ela estava sentimental e emocional por causa da sua responsabilidade e preocupação com a família, mas isso eu compreendia perfeitamente. A Feyre é está em uma situação que a deixa sobre pressão no inicio, mas se o leitor não desisti, ficará surpreso com o desenvolvimento da personagem.


            "Cortes de Espinhos e Rosas" carrega uma ideia ótima! Uma garota forte, com experiências de caça e sobrevivência e que sustenta a própria família; um mundo dividido por feéricos, Grã-Senhores e seres mágicos; Cortes com reis e líderes; Florestas traiçoeiras... e então você soma essa fantasia com doses de narrativas Erótica e BUM! Perfeito. É quase como um fetiche literário." - Jéssica Faustino (Cacto Florido, blog)




É uma história ótima, com direito a personagens portadores de magia, cenas instigantes, desafios mortais, sangue e tortura. A condução e a narrativa (as vezes um pouco complicada quanto a espaço e tempo) foram as únicas coisas que tiraram pontos comigo. Não digo isso por mal. É um daqueles momentos em que você acha que a autora tinha capacidade de fazer melhor. Mas isso não o torna um livro ruim, é como eu disse, ele é uma base de desenvolvimento. A coisa começa a ficar boa mesmo do seu meio em diante e nos próximos livros.

Nesse volume a Feyre tinha tudo para ser a personagem feminina perfeita que todo leitor sonha em ler (no segundo volume esse sonho é realizado), mas ela fora inconveniente em várias situações, o que poderia ser resolvido se a autora tivesse a expressado de outra forma. Em outros momentos a personagem ficava sempre justificando seus pensamentos, mas o leitor já está ciente dos motivos da Feyre precisar retornar para casa. Isso torna a obra, não cansativa, mas um excesso de palavras desnecessárias. Não digo isso de forma negativa, pelo contrário, desejo que vocês leiam toda a trilogia e que não desistam no primeiro volume.

Dos personagens secundários não tenho do que reclamar. Acho que porque eles só apareciam quando era realmente necessário, já que a autora os usava para dar informações à nós, leitores. Taimlin é um dos personagens principais e mesmo não sentindo muita simpatia pela Feyre nesse primeiro livro, eu torço pelos dois. O Grão-Senhor parece carregar a culpa de todas as mortes que aconteceram nas últimas décadas em suas próprias costas. Aparentemente ele é um líder leal à sua Corte, disposto a matar e a sacrificar pelo seu povo. E mesmo ocupando o cargo alto na hierarquia da sua espécie, o loiro bonitão se mostra bastante empático pela Feyre após conhecê-la. Esse lado simpático dele não o faz hesitar quando castigar alguém se faz necessário, mas a visão da jovem e do seu povo sobre eles é muito diferente no início, o que é natural e esperado. (No segundo volume essa descrições se torna de outra pessoa, risos).



Um dos personagens que gostei desde o início, apesar de ter ficado desconfiada em certo momento, foi o ruivinho, Lucien. Um feérico que se mostra leal ao amigo em toda a história e até desenvolve o mesmo carinho pela Feyre. Lucien é o personagem das piadinhas, mas que possui muita presença e personalidade, assim como guarda segredos muito tristes de sua vida. Mas assim como existem os Homens maus, existem os Feéricos que arrancam cabeças por pura diversão.

Entre receios e línguas afiadas de ambas as partes, um tipo de cumplicidade se desenvolve entre os três de forma gradativa. Assim como uma atração surge entre Taimlin e a humana Feyre. E foi justamente isso que eu achei admirável: a maneira como ela conduziu esse romance. O livro tem 434 páginas e a relação de Feyre e Taimlin não é algo que acontece sem fundamento. As coisas também não ficam muito "físicas" rapidamente e ainda assim não é algo cansativo de acompanhar. Só em os dois estarem juntos, passeando ou conversando, era o suficiente para mim.

        Admiro como a autora escreveu um livro tão cheio de detalhes (artisticamente falando) sem torná-lo entediante. A Feyre enxergar e respira pintura e é algo que ela gostaria de fazer se tivesse tempo além da caça. Então a moça sabe admirar uma luz ou uma cor que passaria despercebido por nós — os que não possuem visão nesse lado da coisa. Não tem ação em todo o livro, pois nesse primeiro volume é mais aprofundado em explicar o território ao qual estamos nos metendo. Ainda não vi o sangue da Guerra (e os poucos massacres descritos já me parecem suficientes), mas não tenho do que reclamar. A autora foi ótima elaborando a história e as Cortes, a base para o acontecimento de uma revolta e a trama, como a funcionalidade de cada uma delas, os seus motivos e suas características particulares e em um todo.

Como um jogo de tabuleiro. Alice no País das Maravilhas em seus últimos minutos, só que com muita violência. É visível para o leitor a cede de justiça, vingança e o amor e o poder transbordando das páginas. Sobre os Feéricos, fisicamente falando, pegue fadas com suas orelhas pontudas; vampiros com seus dentes e hipnose; lobisomens com suas forças e bata tudo no liquidificador: e assim nasceram os Feéricos Super Poderosos. É você quem decide se isso é criativo ou não! Ah, e a beleza de quem quer que seja que você ache lindo (a).

        Cheguei a acreditar que Corte de Espinhos e Rosas poderia ser um livro único (e se chamar Sob a Montanha, piada interna), mas após ler metade do segundo livro (Corte de Névoa e Fúria) volto para informar que não, não deveria ter acabado no primeiro volume — apesar do seu gancho nada atrativo no final. Apenas pensei isso por achar que não teria mais nada com o que a autora trabalhar, mas estava enganada. A cada página surgiam mais coisas mirabolantes e o leitor se afundava na leitura.

Fiquei instigada a terminar só para descobrir como a autora lidaria com tudo e foi uma surpresa na verdade. Algumas coisas que eu tinha lido e que pareciam fracas e desnecessárias se mostraram essenciais. O livro tem uma narrativa que pode ser considerada lenta porque a autora, habilmente, pega fio por fio, fazendo várias curvas diferentes, até que no fim, ela puxa suavemente um pequeno fio e todas as linhas se ajustam, se erguem como um toldo e se completam. Tudo o que parecia cansativo e desnecessário passa a fazer sentido.

Eu tenho uma pequena relação de amor e ódio: amor por tudo o que a trama aborda ao envolver amor, o poder nas mãos erradas e a responsabilidade com um povo; e um pouco de raiva somente pela personagem principal. Feyre poderia ter sido muito mais lapidada para o papel dela. Mas talvez isso faça parte da sua personalidade. Mesmo assim espero que ela mude no segundo volume.

P.S.: Retorno aqui para dizer que paguei a minha língua no segundo volume: Cortes de Névoa e Fúria. É a melhor fantasia que já li na vida e teria me arrependido se não tivesse dado continuação.



Título Original: Court of Thorns and Roses Autora: Sarah J. Maas Páginas: 434 Ano: 2015 Volume: 1/3 Editora: Galera Record

You May Also Like

0 comentários