Crítica // A Corrida de Escorpião de Maggie Stiefvater

by - abril 09, 2018




"Hoje é o primeiro dia de Novembro, portanto alguém vai morrer."

Na pequena ilha de Thisby, poucos cavaleiros são bravos o suficiente para competir na corrida de escorpião que acontece a cada novembro. Pela primeira vez uma mulher, a jovem Puck Connolly, vai competir. Ela tem dois irmãos e ficou órfã depois que os pais foram devorados pelos cavalos assassinos. Por isso, ela está determinada não só a competir como ganhar a corrida. Para isso, Puck terá que enfrentar outro jovem corajoso e encantador. Sean Kendrick também perdeu o pai, atropelado pelas sanguinárias criaturas.

Apesar de terríveis, os cavalos do mar são uma grande atração turística. O turismo é a principal fonte de renda dos habitantes de Thisby. A ilha é um lugar fascinante e, ao mesmo tempo que atrai, também amedronta. A descrição que Maggie faz dos desfiladeiros do local é carregada de poesia. Com a narrativa alternando entre o ponto de vista de Sean e de Puck, a autora criou uma trama envolvente, classificada por críticos do New York Times e do Los Angeles Times como inovadora.

Em A corrida de escorpião, Maggie Stiefvater nos leva até o limite, em que o amor e a vida encontram seus maiores obstáculos e apenas os fortes de coração podem sobreviver. Uma leitura inesquecível.

Autora: Maggie Stiefvater
Gênero: Ficção Fantástica, Literatura Juvenil,
Páginas: 378 / Ano: 2012
Editora: Verus
Nota: 5.0

            Thisby é uma ilha isolada no atlântico e mantém uma vida pacata até o mês de Novembro se aproximar, trazendo os Capaill Uisce de dentro do mar e consequentemente os turistas das cidades grandes para verem os nativos da ilha correrem em seus cavalos d'águas. Cavalos semelhantes a cavalos normais, mas que a Maggie Stiefvater descreve como assassinos, um sorriso repleto de garras afiadas e com um porte físico maior que qualquer outro cavalo. Por mais que sejam animais temidos e que irá te fazer ficar longe das praias no período em que o mar está agitado ou se preocupar se o seu parente não chega até o anoitecer, os homens de Thisby tentam caçar os Capaill Uisce e (tentar) domá-los, para quem sabe, sobreviver e vencer a corrida anual, que trazem turistas curiosos, compradores e amantes de cavalos em suas roupas nada apropriadas, do continente. Mas esse ano Puck decide participar, contrariando a vontade dos outros cavaleiros apenas por ser uma garota.

Puck é o apelido intimo de Kate "Puck" Connolly, a jovem vem de uma família que sempre se manteve longe das corridas e dos cavalos sanguinários, mas isso não impediu que ela e seus dois irmãos terminassem órfão de pais e que sua situação financeira atual a fizesse participar das corridas e competir contra seu maior aliado e adversário, Sean Kendrick, tetracampeão, mas que este ano está correndo com um proposito muito maior. O jovem tem apenas dezenove anos e viu o pai ser morto pela mesma raça de animal ao qual fica sob para vencer as corridas anualmente. Mesmo mantendo uma vida humilde o rapaz é bastante respeitado por todos e conhecido pelos seus títulos de campeão e por montar o Capaill mais rápido da ilha, Corr. Seu garanhão é temido e encontrá-lo seria como se deparar com a cara do inferno. Então, se você ouvir alguém gritando "chamem Sean Kendrick" é bom que você não esteja por perto, porque algum Capall Uisce está mostrando o seu lado mais temido.
"Ele é lento, e o mar canta para nós dois, mas ele volta para mim."
            A Corrida de Escorpião estava na lista de desejos do meu Kindle e pensei seriamente em deixá-lo para depois porque achava que não iria gostar ou que seria uma leitura demorada. Mas bastou poucas páginas para que eu reconhecesse a escrita mágica da autora. Diferente de Os Garotos Corvos em A.C.E Maggie utiliza de poucas palavras e sem descrições enfeitadas. Ela optou por narrar em primeira pessoa pelo olhar do Sean e da Puck, sendo uma decisão muito sábia. Em momento nenhum senti que estava faltando algo na troca de personagens.


Em questões de técnica o livro está de parabéns! Não tem um detalhe que possa se sobressair sobre o outro porque as narrativas, o desenvolvimento dos personagens e o enredo se completam. Li em um lugar que "perfeição não é quando não se tem mais nada a acrescentar e sim quando não se tem mais nada a retirar". Isso é visível na escrita da Maggie Stiefvater. É aquela narrativa que se você ler o livro sem olhar o nome do autor você a reconhece. Isso me deixou encantada e inspirada.
"Eu me pergunto se, quando falo de Dove, as pessoas conseguem ouvir como eu a amo assim como percebo o carinho por Corr na voz de Sean. É difícil para mim imaginar como é amar um monstro, não importa quão lindo ele seja. Lembro-me do que o velho disse no açougue, sobre Sean Kendrick ter um pé na terra e outro no mar. Talvez seja preciso ter um pé no mar para ser capaz de enxergar para além da sede de sangue de seu cavalo."
Eu o li querendo um romance e uma aventura perigosa, mas A Corrida de Escorpião me trouxe coisas ainda melhores. Nesta obra temos uma personagem feminina que está passando por alguns problemas em sua pequena família e decide mudar as coisas, mas quando eu achava que esse era o único problema da Puck, somos surpreendidos pela oposição dos homens envolvidos na corrida com relação a participação da jovem. E não pense que a Maggie faz um grande alvoroço com relação a isso. Percebi que em sua escrita seus personagens sempre possuem uma personalidade meio forte quando se trata de orgulho. É quase como um ar de superioridade, mas mais humilde (risos). Além da Puck vejo isso na Blue em O.G.C.. A Puck Connolly consegue manter a dignidade sempre que alguém soa sarcástico com ela, assim como o Sean.
"Os cavalos d'água são famintos e maus, violentos e belos, e amam e odeiam cada um de nós. É hora das Corridas de escorpião. Eu me sinto tão, tão vivo."
            A Maggie Stiefvater criou uma ilha com seres assassinos, mas que ao mesmo tempo você consegue amá-los. O livro todo se passa neste pedço de terra e parece carregar uma área obscura, como um tempo nublado. Animais são devorados, homens são carregados para dentro do mar e ainda assim é algo natural. Tudo isso soa como um conjunto dependente e de forma inspiradora e poética! Como um escritor consegue pegar tanta fantasia e ainda assim fazer tudo parecer normal, a ponto de você se inspirar em tudo aquilo? Eu li todo o livro, conheci cada personagem, mas é como se eu não o tivesse desvendado. Também fiquei tocada com a relação dos humanos com os Capaill Uisce. É de certa forma irônica porque ao mesmo tempo que um é servo do outro e que aparentemente se odeiam, eles parecem que não vivem se o outro não existir.

A narrativa acompanha o enredo, estabelecendo os personagens e descrevendo a ilha, mas nada exagerado. A autora, como eu disse acima, não usa de muitos adjetivos, mas consegue descrever tudo de forma crua e real em nossas mentes. A atmosfera da ilha, os penhascos mortais, o mar azul como o céu noturno e o mais interessante é que conhecemos os personagens pelo passar dos dias e não com eles mesmos se descrevendo. Eu parabenizo a escrita porque são poucos os livros que leio em que o autor consegue contar tanto em poucas páginas e sem precisar dar três adjetivos só para explicar os sentimentos de alguém.
"— Não serei seu ponto fraco, Sean Kendrick.
Agora ele me olha. Diz, muito suavemente:
— É tarde para isso, Puck."
Eu ainda tenho certa curiosidade com os personagens e apesar de ser um livro único e acreditar que a Maggie não vá escrever uma continuação, tem um gancho que permite fazê-lo. Mas mesmo não sendo produzido eu me contento porque não existe pontos sem nós. Na verdade eu não estou sabendo como descrever a forma como a Maggie narra tudo sem precisar narrar nada. Sean é um personagem que não é de falar muito e até mesmo durante sua narrativa não ganhamos detalhes dos seus mais profundos sentimentos. Mas ainda assim, sempre que respondia qualquer outro personagem ou a Puck, mesmo no ponto de vista dela, e sendo uma resposta indireta eu o compreendia. E é com isso que fico encantada. A autora tem esse dom da escrita de fazer o leitor sentir toda a história e os personagens sem que ela, necessariamente, descreva cada um dos seus movimentos.

Minha nota para a escrita é cinco: em questões de técnica e essência. Mas a edição em e-Book aparenta ter engolido alguns Artigos, mas não se preocupem porque isso não atrapalha a leitura. Algo que me fez ficar bem-levemente-desorientada foi a questão do tempo cronológico: eu me perdia se era fim de tarde ou noite por questões de: a posição do sol em cada lado da ilha é meio diferente, os personagens tem a mania de retornar antes do escurecer e outros de sair ao escurecer (e isso é meio estranho quando se lembra dos Capaill Uisce lá fora). Mas acredito que isto tenha sido falta de atenção minha.
"Eles são lindos e mortais, nos amam e nos odeiam."
            Se o que você procura é um livro que conta a história de cavalos assassinos e de homens com uma coragem tão grande que pode ser considerada burrice; um Apaixonado pelo seu Garanhão e uma garota desafiando a si mesma, está é a história certa. Mas como Maggie não investe muito no romance (é algo paralelo e que acontece como consequência) e se o que você quer são beijos, juras de amor e caricia é melhor não arriscar. A Corrida de Escorpião é a história de Thisby localizada no mar de Scorpio, uma pequena ilha que se torna mortal e fascinante nos meses de Outubro e Novembro, que sempre traz os visitantes do mar, tanto Homens como Cavalos D'água, mas que esse ano dois jovens que amam incondicionalmente os seus animais a ponto de parecerem ser partes um do outro enquanto cavalgam, precisam individualmente ganhar para salvar aquilo que amam. 


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